História
Sou uma jovem de 25 anos nascida em Itapetininga (interior de SP), filha de um funcionário aposentado da segurança pública que se sacrificou pelo governo do estado e da mulher mais sensível e determinada que eu poderia conhecer. Minha família sempre se dedicou a cuidar de todos ao seu redor e foi com quem aprendi a lutar pelo que acredito, me interessando pela política e pela possibilidade de transformar a realidade ao meu redor desde muito nova.
Sou fruto do que acredito ser um dos maiores atos de amor que uma família pode concretizar: a adoção. Tenho muito orgulho da minha origem, mesmo entendendo que sou uma exceção à regra entre tantas crianças negras, com deficiências ou condições crônicas que crescem sem a oportunidade de conhecer o amor de uma família e de ter um lar. Foi contando minha história que, em 2009, conquistei o 1º Lugar em um concurso de redação regional, com a participação de milhares de crianças.
Seja nas mais de 10 escolas por onde passei, sendo bolsista nas particulares, ou nas Igrejas onde cresci e firmei meus valores de justiça e solidariedade, enfrentei muita resistência e violências - físicas ou institucionais. Sem uma comunidade para me identificar no interior e sem acesso a uma educação libertadora, foram muitos anos até que eu entendesse o impacto de ser uma criança racializada, pobre e, mesmo sem ter consciência, já LGBT nas situações que sofri.
Também vivi por muitos anos em Piracicaba antes de vir pra São Carlos, onde tive muitas experiências com a música através do Projeto Guri, que me proporcionou o contato com um cenário cultural muito diverso. O acesso democratizado não só à musicalização, mas a espaços de socialização acolhedores e de formação técnica e profissional é um divisor de águas na vida de jovens e crianças.
Ainda assim, só fui capaz de compreender muitas coisas sobre mim mesma e sobre a opressão enraizada nas estruturas e instituições do nosso país quando cheguei na graduação.